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Transtorno Dissociativo de Identidade: Entenda as Múltiplas Identidades

O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), anteriormente conhecido como Transtorno de Personalidade Múltipla, é um distúrbio mental complexo que se caracteriza pela presença de duas ou mais identidades ou estados de personalidade distintos dentro de uma mesma pessoa. Esse transtorno pode ser difícil de entender, principalmente para aqueles que não possuem conhecimento sobre saúde mental, mas é fundamental compreender suas manifestações e o impacto que ele pode ter na vida do indivíduo.

O que é o Transtorno Dissociativo de Identidade?

O TDI é classificado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA, 2013). De acordo com o DSM-5, esse transtorno é caracterizado pela presença de duas ou mais identidades distintas, que podem ter seus próprios padrões de comportamento, memória, e maneira de perceber o mundo. Essas identidades ou "personalidades" podem alternar de forma espontânea e são comumente acompanhadas de amnésia, ou seja, o indivíduo pode não se lembrar de eventos ou ações realizadas enquanto estava sob o controle de uma das identidades.

As personalidades podem ter nomes, idades e até comportamentos diferentes, e, em alguns casos, podem até apresentar características físicas distintas. O transtorno pode ser resultado de uma experiência traumática intensa na infância, como abuso físico, emocional ou sexual, o que faz com que a pessoa dissocie suas experiências dolorosas e crie outras identidades como uma forma de lidar com essas situações.

Causas e Fatores de Risco

Embora as causas exatas do TDI não sejam completamente compreendidas, acredita-se que o transtorno esteja intimamente ligado a traumas psicológicos graves na infância. Estudos apontam que a maioria dos casos de TDI está associada a abusos físicos ou sexuais durante os primeiros anos de vida (Boon & Draijer, 1993). A dissociação, que é a desconexão entre a consciência e a memória, é vista como uma resposta de defesa ao sofrimento intenso, permitindo ao indivíduo "escapar" da realidade traumática através da criação de outras identidades.

Além dos traumas, outros fatores também podem contribuir para o desenvolvimento do TDI, como fatores genéticos, a dinâmica familiar e a ausência de uma rede de apoio emocional. Indivíduos com transtornos dissociativos também podem ser mais vulneráveis ao estresse, o que pode agravar o quadro.

Sintomas e Diagnóstico

O TDI é marcado por uma série de sintomas, sendo os mais comuns a amnésia, a sensação de estar fora de si (despersonalização), e a sensação de que o corpo está sendo controlado por outra entidade (dissociação). A pessoa com TDI pode alternar entre diferentes personalidades sem perceber que essas mudanças ocorreram. Em alguns casos, essas identidades podem se manifestar em momentos específicos, como quando o indivíduo está sob estresse emocional, ou podem surgir sem motivo aparente.

O diagnóstico do TDI é complexo e envolve a avaliação detalhada de um profissional de saúde mental. O médico ou psicólogo avaliará a história clínica, os sintomas, a frequência das alterações de identidade e a presença de amnésia. Além disso, o profissional pode utilizar ferramentas de avaliação, como entrevistas clínicas e testes psicométricos.

Tratamento

O tratamento do Transtorno Dissociativo de Identidade envolve, em primeiro lugar, a abordagem das experiências traumáticas subjacentes. O objetivo principal do tratamento é ajudar o indivíduo a integrar as diversas identidades em uma única personalidade coesa e funcional. Para isso, a psicoterapia é a principal forma de intervenção, especialmente a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a terapia focada no trauma.

A terapia pode incluir técnicas de enfrentamento de traumas passados, como a terapia de exposição, onde o paciente é gradualmente exposto aos traumas com o objetivo de processá-los de maneira saudável. Em alguns casos, o uso de medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos também pode ser recomendado para tratar sintomas associados, como depressão e ansiedade.

A Importância do Apoio

O Transtorno Dissociativo de Identidade pode ser um desafio significativo para aqueles que o experimentam, e, por isso, é essencial que o indivíduo tenha o apoio de familiares, amigos e profissionais de saúde mental qualificados. A compreensão do transtorno e o fornecimento de um ambiente seguro e acolhedor são fundamentais para que o paciente possa iniciar o processo de cura e integração de suas identidades.

Conclusão

O Transtorno Dissociativo de Identidade é um transtorno psicológico complexo e frequentemente mal compreendido. Ele é caracterizado por uma dissociação significativa da identidade, muitas vezes como resultado de traumas graves vividos na infância. O tratamento, baseado em psicoterapia, visa ajudar o paciente a integrar suas diferentes identidades e a lidar com os traumas subjacentes de maneira saudável. O apoio de familiares, amigos e profissionais qualificados é essencial para o processo de recuperação.

Bibliografia

APA – Associação Americana de Psiquiatria. (2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Porto Alegre: Artmed.

Boon, S., & Draijer, N. (1993). Dissociative Identity Disorder: A Comprehensive Review. Journal of Trauma & Dissociation, 1(1), 23-40.

Kluft, R. P. (1985). The Therapeutic Treatment of Multiple Personality Disorder. Psychiatric Clinics of North America, 8(1), 53-68.

Nijenhuis, E. R. S. (2015). The Trauma-Related Dissociation Scale (TRDS). Journal of Trauma & Dissociation, 16(4), 439-454.

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