O Transtorno de Personalidade Paranoide (TPP) é uma condição psicológica marcada por um padrão duradouro de desconfiança e suspeitas infundadas em relação aos outros, interpretando suas ações como mal-intencionadas. Pessoas com esse transtorno tendem a interpretar os comportamentos neutros ou amigáveis como ameaças ocultas, o que prejudica seus relacionamentos e sua qualidade de vida.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR), o TPP é classificado entre os transtornos do Grupo A, caracterizado por padrões excêntricos de comportamento e cognição. Os critérios diagnósticos incluem desconfiança injustificada de que os outros estão explorando, prejudicando ou enganando a pessoa; preocupação com dúvidas infundadas sobre a lealdade ou confiabilidade de amigos; relutância em confiar nos outros; interpretações distorcidas de comentários inofensivos como ataques ou desprezo; e rancor persistente (APA, 2022).
COMO IDENTIFICAR?
Pessoas com TPP geralmente são vistas como frias, hostis, reservadas e excessivamente críticas. Elas podem parecer controladoras nos relacionamentos, com dificuldade em perdoar ou esquecer ofensas. Evitam se abrir emocionalmente, pois acreditam que qualquer informação compartilhada poderá ser usada contra elas.
A desconfiança não se baseia em delírios intensos como nos quadros psicóticos, mas em interpretações rígidas e distorcidas da realidade. Não há, portanto, uma ruptura com a realidade, o que diferencia o TPP de condições como a esquizofrenia paranoide (Millon; Davis, 1996).
CAUSAS E DESENVOLVIMENTO
As origens do TPP são multifatoriais. Fatores genéticos, experiências precoces de abuso emocional, rejeição, negligência parental ou ambientes familiares marcados por crítica constante e rigidez podem contribuir. Theodore Millon (1996), referência na área da psicopatologia da personalidade, sugere que o estilo paranoide se desenvolve como um mecanismo defensivo em contextos onde a pessoa foi constantemente ameaçada, levando à criação de um "eu hipervigilante".
Do ponto de vista psicodinâmico, autores como Kernberg (1992) compreendem o TPP como decorrente de mecanismos de defesa primitivos, como a projeção – onde o indivíduo atribui aos outros sentimentos ou intenções que, na verdade, são seus. Assim, a hostilidade interna é vivida como se estivesse no ambiente externo.
TRATAMENTO
O tratamento do TPP é um desafio, especialmente porque a pessoa muitas vezes não reconhece o problema. A psicoterapia é o tratamento de escolha, especialmente abordagens que trabalham o vínculo terapêutico com cautela, como a terapia cognitivo-comportamental ou abordagens psicodinâmicas adaptadas. O terapeuta precisa lidar com a resistência e a desconfiança do paciente, construindo um vínculo seguro ao longo do tempo (Beck et al., 2006).
O uso de medicamentos pode ser indicado em casos de ansiedade intensa, irritabilidade ou sintomas associados, como ideias de referência. No entanto, a adesão ao tratamento pode ser prejudicada justamente pela suspeita em relação à intenção do profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Transtorno de Personalidade Paranoide, embora menos conhecido que outros transtornos mentais, impacta profundamente a vida de quem convive com ele. A desconfiança crônica pode afastar o sujeito de vínculos afetivos e ambientes saudáveis. A escuta cuidadosa, o diagnóstico especializado e o acompanhamento psicológico são fundamentais para promover uma vida mais funcional e satisfatória.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5-TR. 5. ed., texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2022.
BECK, Aaron T.; FREEMAN, Arthur; DAVIS, Denise D. Cognitive Therapy of Personality Disorders. 2. ed. New York: Guilford Press, 2006.
KERNBERG, Otto. Transtornos graves da personalidade: Estratégias psicoterápicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
MILLON, Theodore; DAVIS, Roger. Transtornos da Personalidade: As Perspectivas da Terapia e da Investigação. Porto Alegre: Artmed, 1996.
