O psicodrama, criado por Jacob Levy Moreno, é um método psicoterapêutico que se distingue por sua natureza ativa e vivencial, integrando ação, espontaneidade, criatividade e relações interpessoais. Nos contextos clínicos contemporâneos, essa abordagem tem sido constantemente adaptada para responder às novas demandas sociais, tecnológicas e culturais, sem perder de vista sua essência terapêutica.
Na prática clínica individual, destaca-se o Imagodrama, conceito desenvolvido por Guimarães (2020), que consiste na utilização de bonecos e objetos-auxiliares para construção de cenas psicodramáticas, tanto presencialmente quanto online. Essa técnica permite ao paciente expressar-se simbolicamente, favorecendo a elaboração de conflitos e a ampliação da compreensão de si. Mesmo na ausência de egos-auxiliares humanos, a direção pode assumir tais papéis, guiando a cena com os elementos simbólicos escolhidos pelo paciente. Essa abordagem se destaca pelo potencial de evocar a realidade suplementar de Moreno, criando espaços para vivências significativas que não se limitam à realidade objetiva.
No contexto grupal, a psicoterapia psicodramática enfrenta desafios específicos na clínica privada. Segundo Freitas e Russo (2013), há dificuldades na formação e manutenção de grupos psicoterapêuticos em virtude de fatores socioeconômicos, culturais e pessoais. Ainda que a formação em Psicodrama seja ampla no Brasil, muitos profissionais relatam barreiras na adesão de pacientes a esse modelo, o que pode ser atribuído ao individualismo contemporâneo e à busca por exclusividade no setting terapêutico. Apesar disso, o grupo ainda representa um espaço privilegiado de trocas télicas e de multi-perspectividade, sendo fundamental para ampliação da espontaneidade e desenvolvimento de papéis.
Nas clínicas-escola, o psicodrama também se mostra potente. Como argumentam Gonçalves e Peres (2012), a abordagem moreniana oferece uma alternativa rica às polarizações acadêmicas entre paradigmas psicanalíticos e comportamentais. Seu enfoque no "aqui-e-agora", na espontaneidade, na realidade suplementar e no conceito de cosmo permite intervenções terapêuticas que privilegiam a integração do tempo, do espaço, da realidade interna e externa. A catarse de integração, tão valorizada por Moreno, é facilitada nesse contexto através de vivências profundas e compartilhada.
Por fim, como apontam Nery e Costa (2008), o psicodrama contribui para a expansão do campo clínico, indo além do consultório tradicional. Ao integrar a clínica com dimensões grupais e sociais, a prática psicodramática favorece uma escuta ampliada, que considera o sujeito em seu contexto e a subjetividade como eixo de intervenção e pesquisa. A sociatria moreniana se apresenta como uma proposta potente de emancipação simbólica e coletiva, promovendo transformações que vão da esfera individual à social.
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Referências
GUIMARÃES, L. A. Imagodrama: uso de bonecos e objetos-auxiliares em psicodrama individual e on-line. Revista Brasileira de Psicodrama, v. 28, n. 2, p. 106-117, 2020.
FREITAS, A. P.; RUSSO, A. L. T. Psicoterapia psicodramática grupal em clínica privada: terapeutas e seus desafios. Revista Brasileira de Psicodrama, v. 21, n. 1, p. 67-75, 2013.
GONÇALVES, C. O.; PERES, V. L. A. O psicodrama na universidade: contribuições morenianas à psicoterapia em uma clínica-escola. Revista Brasileira de Psicodrama, v. 20, n. 1, p. 71-78, 2012.
NERY, M. P.; COSTA, L. F. A pesquisa em psicologia clínica: do indivíduo ao grupo. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 25, n. 2, p. 241-250, 2008.
