Autismo em Mulheres Florianópolis: Barreiras para o Diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista em Jovens Mulheres e Meninas: uma Revisão Sistemática
Resumo do Artigo: Barriers to Autism Spectrum Disorder Diagnosis for Young Women and Girls: a Systematic Review
Título: Barriers to Autism Spectrum Disorder Diagnosis for Young Women and Girls: a Systematic Review
Autoras: Georgia Lockwood Estrin, Victoria Milner, Debbie Spain, Francesca Happé, Emma Colvert
Publicado em: Review Journal of Autism and Developmental Disorders, 2020
Este estudo realizou uma revisão sistemática de métodos mistos para identificar as principais barreiras para a obtenção de um diagnóstico de TEA em meninas e jovens mulheres com menos de 21 anos. A pesquisa incluiu 15 artigos quantitativos, seis qualitativos e um estudo de métodos mistos. Os principais temas identificados foram sintomas e comportamentos que são potenciais barreiras para o diagnóstico e barreiras percebidas para o diagnóstico. A revisão destacou a falta de coesão entre os estudos, que muitas vezes focam em diferentes aspectos dos sintomas ou comportamentos do TEA, dificultando a comparação direta entre os achados. Além disso, as amostras variadas e a inclusão predominante de artigos em inglês limitaram a abrangência cultural da análise.
Os resultados mostraram que meninas com TEA frequentemente apresentam sintomas e comportamentos mais sutis que seus pares masculinos, o que pode levar a uma menor probabilidade de serem encaminhadas para avaliações clínicas ou a tempos de espera mais longos. A pesquisa indicou que, para serem diagnosticadas, as meninas muitas vezes precisam apresentar problemas adicionais de linguagem ou comportamento, ao contrário dos meninos. Além disso, diferenças nas habilidades de comunicação social entre meninos e meninas, especialmente durante a adolescência, foram identificadas como um fator chave nas discrepâncias de diagnóstico.
A revisão também destacou que os critérios diagnósticos atuais podem não ser suficientemente sensíveis para identificar o TEA em meninas, que podem compensar suas dificuldades sociais de maneiras que os meninos não fazem. A hipótese de "camuflagem" sugere que as meninas podem mascarar intencionalmente ou inconscientemente suas dificuldades de comunicação social, dificultando a detecção pelos profissionais de saúde. Este comportamento de camuflagem foi identificado como uma barreira significativa para o diagnóstico de TEA em meninas, sugerindo a necessidade de ferramentas de diagnóstico que levem em conta esses aspectos sutis.
Em termos de implicações clínicas, o estudo recomenda que os profissionais ampliem os critérios de triagem para incluir déficits mais sutis em meninas e foquem na qualidade das dificuldades, além da quantidade de sintomas apresentados. A pesquisa sugere a necessidade de um maior entendimento das formas que as dificuldades de comunicação social e os comportamentos repetitivos e restritivos podem assumir nas meninas com TEA. Além disso, destaca a importância de considerar as percepções dos próprios indivíduos com TEA, dos clínicos, professores e outros membros da família em futuros estudos, para uma compreensão mais abrangente das barreiras diagnósticas e uma melhor disseminação do conhecimento sobre o TEA em ambos os sexos e todos os gêneros.
Importância
Este estudo destaca as barreiras enfrentadas por meninas e jovens mulheres para obter um diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). O diagnóstico de TEA em mulheres é frequentemente atrasado ou perdido devido a várias barreiras, incluindo percepções de gênero e ferramentas diagnósticas que são mais sensíveis ao fenótipo masculino de TEA.
Objetivo
Identificar as principais barreiras para obter um diagnóstico de TEA em meninas e jovens mulheres com menos de 21 anos.
Metodologia
Revisão sistemática de métodos mistos de artigos publicados até outubro de 2018. As bases de dados pesquisadas incluem PsycInfo, EMBASE, Medline e CINAHL. Foram identificados 20 artigos, incluindo estudos qualitativos, quantitativos e de métodos mistos.
Resultados Principais
Foram identificados seis temas principais relacionados aos sintomas e comportamentos que podem ser barreiras ao diagnóstico:
- Problemas comportamentais: Meninos são mais frequentemente diagnosticados com problemas como agressividade e hiperatividade, enquanto meninas podem apresentar comportamentos como fixação do olhar e atividades semelhantes a convulsões, que são menos associadas ao TEA.
- Habilidades de comunicação social: Meninas podem mascarar suas dificuldades sociais melhor que os meninos, o que dificulta a detecção de TEA.
- Linguagem: Meninas com habilidades verbais podem ser diagnosticadas mais tarde que os meninos com habilidades semelhantes.
- Relacionamentos: Meninas com TEA podem manter habilidades sociais que se assemelham às de meninos neurotípicos, complicando o diagnóstico.
- Diagnósticos adicionais/dificuldades: Meninas com outros diagnósticos frequentemente têm o diagnóstico de TEA atrasado.
- Comportamentos restritos e repetitivos (RRBIs): Meninos tendem a apresentar mais RRBIs que meninas, e estes comportamentos são mais preditivos de um diagnóstico de TEA em meninos.
Além disso, cinco temas de barreiras percebidas foram identificados:
- Comportamentos compensatórios: Meninas com TEA podem usar estratégias de camuflagem para se ajustar socialmente, tornando mais difícil a detecção do TEA.
- Preocupações parentais: Pais podem expressar menos preocupações ou diferentes preocupações em relação às suas filhas em comparação com seus filhos.
- Percepções dos outros: A percepção de que o TEA é um "transtorno de meninos" pode levar a diagnósticos tardios ou inexistentes em meninas.
- Falta de informações/recursos: Pais e profissionais podem ter dificuldades em encontrar informações específicas sobre o TEA em meninas.
- Viés dos clínicos: Profissionais de saúde podem ser mais relutantes em diagnosticar meninas com TEA.
Conclusão
O estudo destaca a necessidade urgente de maior conscientização sobre o TEA em meninas e mulheres, tanto no público quanto entre os profissionais de saúde. Também sugere que critérios diagnósticos e ferramentas devem ser ajustados para melhor captar o fenótipo feminino do TEA.
Recomendações
- Desenvolver ferramentas de diagnóstico específicas para meninas.
- Aumentar a conscientização sobre TEA em meninas entre pais e profissionais de saúde.
- Incluir perspectivas de diversos stakeholders, além de pais, em futuras pesquisas.
Referência
Lockwood Estrin, G., Milner, V., Spain, D., Happé, F., & Colvert, E. (2020). Barriers to Autism Spectrum Disorder Diagnosis for Young Women and Girls: a Systematic Review. Review Journal of Autism and Developmental Disorders. https://doi.org/10.1007/s40489-020-00225-8