Em todos estes anos atuando.na avaliação Neuropsicológica com adultos, o principal desafio que sempre me deparo, são nos casos onde envolve um diagnóstico diferencial de TDAH, Autismo e Altas Habilidades/Superdotação. Ou seja, diferenciar as queixas do cliente e identificar se estas podem melhor ser respondidas pelo TEA, pelo TDAH ou pelas Altas Habilidades/Super Dotação. Para tamanha complexidade da Avaliação, me deparei com a necessidade de me.especializar em curso de pós graduação nas três areas. Recentemente, realizei a leitura de um dos melhores livros que aborda sobre o tema, porém, ainda não há tradução para português. Decidi então, realizar um resumo e compartilhar com vocês. O nome do.livro é: Misdiagnosis and Dual Diagnoses of Giffet Children and Adults ADHD, Bipolar, OCD, Asperger's, depression, and Other Disorders. Trata-se de uma segunda versão, publicado no ano de 2016.
Atribuir um diagnóstico a comportamentos que são normais para pessoas dotadas e talentosas é, em nossa opinião, um problema significativo e difundido. Classificar esses comportamentos como problemas de saúde mental ocorre com muita frequência. Como profissionais de saúde, somos treinados para avaliar e categorizar comportamentos e sintomas. Às vezes, esses sintomas se assemelham a uma condição clínica, e rótulos são aplicados. Em pessoas dotadas, às vezes há uma explicação melhor do que patologia.
Acreditamos que diagnósticos errôneos decorrem principalmente da ignorância generalizada entre os profissionais de saúde sobre as características sociais e emocionais e as necessidades de crianças e adultos dotados. A imprecisão dos diagnósticos feitos por profissionais nos campos da psicologia e psiquiatria também contribui para esse problema.
Os diagnósticos de saúde mental são frequentemente feitos (infelizmente) com base apenas na presença de características comportamentais, com pouca consideração para as origens desses comportamentos e/ou se os comportamentos poderiam ser considerados normais, dados os antecedentes ou as circunstâncias de vida da pessoa. O nível de comprometimento causado pelos comportamentos também deve ser considerado ao decidir se eles são sintomas que justificam serem classificados como indicadores de uma doença diagnosticável. A presença de comportamentos sozinha não significa que um diagnóstico é apropriado.
O comprometimento é o resultado de uma desconexão entre o comportamento observado do indivíduo e o que o ambiente espera — a diferença entre o comportamento observado e o comportamento esperado. No entanto, com muita frequência, são apenas os comportamentos observados específicos que são usados como base para o diagnóstico. Raramente as pessoas levam em conta o efeito da situação ou que o ambiente pode ser inapropriado. Comportamentos que são adequados em um ambiente podem ser vistos como problemáticos em outro.
De maneira semelhante, comportamentos criativos, que por definição são inovadores, implicam em fazer coisas de maneira diferente da norma, mas essas diferenças muitas vezes deixam os outros desconfortáveis e não são valorizadas até que um produto criativo surja.
Um fator relevante, embora alguns possam achar inconveniente, é o papel das expectativas culturais, particularmente para grupos minoritários, e a frequência com que educadores e profissionais de saúde negligenciam a superdotação e relacionados, como o TDAH. Muitos estudantes afro-americanos, hispânicos ou de outras minorias acabam em classes de educação especial ou são vistos como tendo problemas de comportamento por professores brancos. Os professores não indicam esses alunos para serviços para superdotados. Pais de grupos desfavorecidos são menos propensos a saber sobre recursos para crianças superdotadas e, muitas vezes, não podem pagar por testes externos e avaliações ou não sabem que essas opções existem para uma segunda opinião. Como resultado, programas para superdotados em muitas escolas são desproporcionalmente brancos, e crianças superdotadas de minorias são mais propensas a ter suas habilidades intelectuais negligenciadas e seus comportamentos classificados como distúrbios.
Além disso, há uma suposição implícita de que todos devem funcionar igualmente bem em todas as circunstâncias. Muitas pessoas em nossa sociedade mostram comportamentos excêntricos e incomuns que não causam comprometimento, mas que podem ser confundidos com sintomas de vários distúrbios. Isso não significa que um diagnóstico clínico seja apropriado
Diagnósticos como TDAH, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno de Asperger, Transtorno Opositivo-Desafiador ou Transtorno Bipolar são frequentemente atribuídos. Ao examiná-los, esses profissionais descobriram que muitos desses pacientes haviam sido seriamente diagnosticados erroneamente — na verdade, eram indivíduos intensos, sensíveis e frequentemente obstinados, que estavam em situações nas quais as pessoas ao seu redor não entendiam ou aceitavam suficientemente os comportamentos que eram inerentes à superdotação.
Outro tipo de diagnóstico equivocado ocorre — nomeadamente, um diagnóstico que é perdido por causa das habilidades superdotadas da pessoa. Encontramos muitos casos, por exemplo, de pacientes muito brilhantes que realmente tinham uma deficiência de aprendizagem, mas que não foram considerados nem superdotados nem portadores de deficiência de aprendizagem, porque as duas condições obscureciam uma à outra.
Crianças com alto potencial que não foram identificadas como superdotadas muitas vezes não estão em programas escolares especiais e podem desenvolver dificuldades sociais e emocionais durante os primeiros anos de escolarização formal, onde poucas tentativas são feitas para ajudá-las. O campo da saúde deve desenvolver uma estrutura útil na qual diagnósticos sejam relativamente distintos em descrever uma condição médica ou psicológica humana que justifique tratamento.
Referência Bibliográfica
WEBB, James T.; AMEND, Edward R.; BELJAN, Paul; WEBB, Nadia E.; KRZANJAKIS, Marianne; GOLOMB, Jean. Misdiagnosis and Dual Diagnoses of Gifted Children and Adults: ADHD, Bipolar, OCD, Asperger's, Depression, and Other Disorders. 2. ed. [S.l.: s.n.], [2016].